CHEGOU! NOSSA CORRENTEZA CHEGOU!

Por vezes, levamos anos desejando e esperando que certos obstáculos (matematicamente intransponíveis) ou algumas correntes (aparentemente inquebrantáveis) se dissipem, sumam, explodam, evaporem, sejam arrancados, derrubados, derrotados, aniquilados – ou algo semelhante, que nos liberte, definitivamente.

São aqueles tipos de desafios que quase todos à nossa volta já consideram serem perpétuos, ou seja, definitivamente, para toda a vida. São apenas acessórios, totalmente dispensáveis e indesejáveis, que atravancam o essencial, atrapalham, perturbam, enfraquecem, aniquilam, amarram, irritam e adoecem. Não são a raiz, nem o caule, nem os ramos, nem as folhas, muito menos as flores ou os frutos de nossa árvore, de nossa vida e vocação. Mas estão ali, como simples trepadeiras venenosas, sugadoras, cheias de espinhos e percevejos que não mudam a essência da árvore, mas tiram sua liberdade, saúde e alegria, por vezes abalando a fé e a esperança. São badulaques parasitários, que se alimentam de nossas fraquezas, dores, traumas, compulsões, medos, desconfianças, faltas e excessos. São de origens histórica, hereditária ou adquirida. São verdadeiros sanguessugas, esse tipo de coisa que gruda e parece que nunca mais deixará de limitar nosso caminhar. Para onde nos movimentamos, seja qual for a direção, ele está lá, firme e forte, parecendo cada vez mais solidificado e crescente, quase luminoso, brilhante, vitorioso, ferindo nossos corações. 

Todavia, o que não vemos são como andam suas sapatas, seus alicerces, suas bases, sua raiz. Não sabemos que, aos poucos, nosso clamor, nossa fidelidade, nosso suor pela messe e os apelos dos nossos corações, perante a grande Providência Divina que nos cerca, estão provocando rachaduras comprometedoras na estrutura dessas verdadeiras torres de babel, destruindo-as de cima para baixo e de dentro para fora. Vemos a casca e o cume e pensamos: será que isso nunca vai acabar? 

Entretanto, se confiarmos na poderosa força do Amor e perseverarmos em ação e oração, orando e vigiando, confiando e pelejando .... quando menos esperarmos, aquela estrutura, aparentemente indestrutível, desmoronará aos nossos olhos. E aquele obstáculo desafiador cairá aos nossos pés e se transformará na ponte de acesso à terra da vida, terra de descanso, de onde manará leite e mel. 

São dias como estes que vivo neste meu hoje. Não apenas eu, mas toda a Família Vocacional Abbá Pai e seus integrantes, nas áreas pessoal, familiar e comunitária. 

No passado, dos primeiros aos últimos anos desse martírio branco, que abraçamos no zelo e na amizade com o Senhor, perseveramos em dias de seca e recessão, mantendo-nos no caminho da fé, caminhando, muitas vezes, às escuras, sem provisões, sem garantias, sem vermos os frutos, tateando a Glória do Pai. E agora vemos as muralhas caindo aos nossos olhos, as comportas abrindo-se  e as torrentes de água, até então represadas, desaguarem, efusivamente, e nos arrastarem rumo ao imenso mar da Misericórdia de Deus.

Agora, apenas precisamos nos deixar, literalmente, arrastar. Podemos boiar e contemplar a beleza do céu; nadar e avançar na direção das correntes de bênçãos que descem morro abaixo; mergulhar e contemplarmos o fundo das águas. Somente não poderemos temer ou duvidar e nos deixar afogar ou, ainda, resistir e sermos lançados à margem dessa torrente de graças, no ermo. 

Já olhamos para trás, para as terras errantes por onde passamos em nosso deserto de purificação, sendo gratos por cada calo em nossas mãos, cada ruga em nossos olhos, cada cicatriz em nossos pés. Foram dias difíceis (sim, foram mesmo), mas, agora, neste tempo presente, entendemos que esta espera teve um propósito muito importante: preparar-nos para o transbordamento da espiritualidade do Amor Abbá Pai, que está nos arrastando, literalmente, para a amplitude de nossa identidade, espiritualidade, carisma e missão. Deus seja louvado!

E a efusão do Amor, que somos chamados a conhecer e revelar, antes já tão consoladora e animadora, ainda quando era pequena vertente, agora se amplia e transforma-se em riachos, rios e cachoeiras de águas vivas, não apenas matando a nossa sede, lavando a nossa alma e nos purificando, mas transbordando os nossos reservatórios e margens e inundando todos aqueles que nos encontram pelo caminho. 

Rios de bênçãos sobre bênçãos, tempo de graças sobre graças, ventos de vitória e de salvação chegam trazendo a paz e a felicidade que intuíamos haver além do horizonte e que agora estão bem aqui, em nosso andar, bem aos nossos olhos, perto de nossas mentes, exatamente bem no centro, no cume, no altar de nossos corações, onde somente Ele, o Deus de Amor, poderia estar e ser adorado “em espírito e em verdade”, transformando-nos em verdadeiros e bem-aventurados “sacrários vivos” de Sua bondade: missionários de seu Amor Misericordioso.

Sim, chegou, nossa correnteza chegou! Então, vamos lá! U-hu! 

Deus seja louvado!